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Tela íntima – Campos de Figueiredo Novembro 29, 2008

Filed under: Campos de Figueiredo,poesia — looking4good @ 1:31 pm
Artist in His Studio,Rembrandt Harmensz. van Rijn.
In the collection of Boston’s Museum of Fine Art.!

Lá fora, a noite escura… o vento aos ais,
A soluçar e a rir – doido soturno,
É um violinista trágico e nocturno
Wagnerizando a voz dos temporais!

Lá fora, a chuva fria das procelas…
E cá dentro, ao calor da nossa casa,
O nosso coração a arder em brasa
E o silêncio divino das estrelas

Tu embalas ao colo a nossa Filha…
A luz, a arder, que em nossos rostos brilha,
Dá-lhes um tom rosado de manhã…

E com a estranha e misteriosa tinta,
Com que Deus ao Sol-Posto as coisas pinta;
Nós formamos um quadro de Rembrandt!

José Campos de Figueiredo nasceu em Sernache (Coimbra) a 6 de Maio de 1899 e faleceu em Coimbra a 29 de Novembro de 1965.

Ler do mesmo autor:
O Milagre das Rosas
Autocrítica
Fingimento

 

O Milagre das Rosas – Campos de Figueiredo Maio 5, 2008

Filed under: Campos de Figueiredo,poesia — looking4good @ 11:14 pm
Santa Isabel e o Milagre das Rosas” , óleo sobre madeira, Anónimo,
Século XVI, Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra
Trazia ouro aos Pobres… dava estrelas,
que no jardim azul do céu colhera,
mas, quando El-Rei Dinis desejou vê-las,
floriu, no seu regaço, a primavera.

− «Vede, são rosas brancas, fui colhê-las
para os gafos, Senhor! Julgáveis que era
dinheiro em vez de flores? A Deus prouvera
que em oiro e pão pudesse convertê-las!»

Repete-se o milagre, eternamente:
caem do céu, às horas do poente,
rosas de oiro, vermelhas, a sangrar…

E, à noite, é Ela sempre que, na treva,
sobre a linda Cidade medieva,
desfolha rosas brancas, ao luar!

José Campos de Figueiredo nasceu em Sernache (Coimbra) a 6 de Maio de 1899 e faleceu em Coimbra a 29 de Novembro de 1965. Foi gerente bancário (C.G.D.) e distinguiu-se tanto na poesia (em 1942, «Navio na Montanha» ganhou o prémio Antero de Quental, o mesmo que galardoara, em 1934, a «Mensagem» de Fernando Pessoa) como no teatro radiofónico (o poema lírico-dramático «Obed» alcançou em 1957 o prémio Ricardo Malheiros, conferido pela Academia das Ciências de Lisboa). Cultivou também a literatura infantil.

Soneto e nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado – Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

 

O Milagre das Rosas – Campos de Figueiredo

Filed under: Campos de Figueiredo,poesia — looking4good @ 11:14 pm
Santa Isabel e o Milagre das Rosas” , óleo sobre madeira, Anónimo,
Século XVI, Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra
Trazia ouro aos Pobres… dava estrelas,
que no jardim azul do céu colhera,
mas, quando El-Rei Dinis desejou vê-las,
floriu, no seu regaço, a primavera.

− «Vede, são rosas brancas, fui colhê-las
para os gafos, Senhor! Julgáveis que era
dinheiro em vez de flores? A Deus prouvera
que em oiro e pão pudesse convertê-las!»

Repete-se o milagre, eternamente:
caem do céu, às horas do poente,
rosas de oiro, vermelhas, a sangrar…

E, à noite, é Ela sempre que, na treva,
sobre a linda Cidade medieva,
desfolha rosas brancas, ao luar!

José Campos de Figueiredo nasceu em Sernache (Coimbra) a 6 de Maio de 1899 e faleceu em Coimbra a 29 de Novembro de 1965. Foi gerente bancário (C.G.D.) e distinguiu-se tanto na poesia (em 1942, «Navio na Montanha» ganhou o prémio Antero de Quental, o mesmo que galardoara, em 1934, a «Mensagem» de Fernando Pessoa) como no teatro radiofónico (o poema lírico-dramático «Obed» alcançou em 1957 o prémio Ricardo Malheiros, conferido pela Academia das Ciências de Lisboa). Cultivou também a literatura infantil.

Soneto e nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado – Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

 

O Milagre das Rosas – Campos de Figueiredo

Filed under: Campos de Figueiredo,poesia — looking4good @ 11:14 pm
Santa Isabel e o Milagre das Rosas” , óleo sobre madeira, Anónimo,
Século XVI, Museu Nacional Machado de Castro, Coimbra
Trazia ouro aos Pobres… dava estrelas,
que no jardim azul do céu colhera,
mas, quando El-Rei Dinis desejou vê-las,
floriu, no seu regaço, a primavera.

− «Vede, são rosas brancas, fui colhê-las
para os gafos, Senhor! Julgáveis que era
dinheiro em vez de flores? A Deus prouvera
que em oiro e pão pudesse convertê-las!»

Repete-se o milagre, eternamente:
caem do céu, às horas do poente,
rosas de oiro, vermelhas, a sangrar…

E, à noite, é Ela sempre que, na treva,
sobre a linda Cidade medieva,
desfolha rosas brancas, ao luar!

José Campos de Figueiredo nasceu em Sernache (Coimbra) a 6 de Maio de 1899 e faleceu em Coimbra a 29 de Novembro de 1965. Foi gerente bancário (C.G.D.) e distinguiu-se tanto na poesia (em 1942, «Navio na Montanha» ganhou o prémio Antero de Quental, o mesmo que galardoara, em 1934, a «Mensagem» de Fernando Pessoa) como no teatro radiofónico (o poema lírico-dramático «Obed» alcançou em 1957 o prémio Ricardo Malheiros, conferido pela Academia das Ciências de Lisboa). Cultivou também a literatura infantil.

Soneto e nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado – Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

 

AUTOCRÍTICA – Campos de Figueiredo Novembro 29, 2007

Filed under: Campos de Figueiredo,poesia — looking4good @ 7:04 am
Roofs of old Baku – 1971
felt tip pen and chalk on paper, 58×37 cm, Moscow
by Tahir Salahov (b. Nov 29, 1928; ~)

Senhor! nunca me vi nem conheci
Dentro do negro abismo onde se esconde
O meu segredo humano, nem sei onde
Começa e acaba o que provém de ti!

Sei que errei o caminho e me perdi!
Agora, embora chame e grite e sonde,
No meu longo deserto, só responde
Ao longe, a voz do mar que nunca vi.

Em vão chamo por mim, em vão procuro
A luz que me pertence e que cintila
No fundo inquieto deste abismo escuro;

– Fio de água sumido nas areias, –
Vejo estátuas dramáticas de argila
Com dedadas fatais de mãos alheias!

José Campos de Figueiredo (n. em Coimbra a 6 Maio 1899, m. em Coimbra a 29 Nov. 1965)

Ler do mesmo autor neste blog: Fingimento

 

AUTOCRÍTICA – Campos de Figueiredo

Filed under: Campos de Figueiredo,poesia — looking4good @ 7:04 am
Roofs of old Baku – 1971
felt tip pen and chalk on paper, 58×37 cm, Moscow
by Tahir Salahov (b. Nov 29, 1928; ~)

Senhor! nunca me vi nem conheci
Dentro do negro abismo onde se esconde
O meu segredo humano, nem sei onde
Começa e acaba o que provém de ti!

Sei que errei o caminho e me perdi!
Agora, embora chame e grite e sonde,
No meu longo deserto, só responde
Ao longe, a voz do mar que nunca vi.

Em vão chamo por mim, em vão procuro
A luz que me pertence e que cintila
No fundo inquieto deste abismo escuro;

– Fio de água sumido nas areias, –
Vejo estátuas dramáticas de argila
Com dedadas fatais de mãos alheias!

José Campos de Figueiredo (n. em Coimbra a 6 Maio 1899, m. em Coimbra a 29 Nov. 1965)

Ler do mesmo autor neste blog: Fingimento

 

AUTOCRÍTICA – Campos de Figueiredo

Filed under: Campos de Figueiredo,poesia — looking4good @ 7:04 am
Roofs of old Baku – 1971
felt tip pen and chalk on paper, 58×37 cm, Moscow
by Tahir Salahov (b. Nov 29, 1928; ~)

Senhor! nunca me vi nem conheci
Dentro do negro abismo onde se esconde
O meu segredo humano, nem sei onde
Começa e acaba o que provém de ti!

Sei que errei o caminho e me perdi!
Agora, embora chame e grite e sonde,
No meu longo deserto, só responde
Ao longe, a voz do mar que nunca vi.

Em vão chamo por mim, em vão procuro
A luz que me pertence e que cintila
No fundo inquieto deste abismo escuro;

– Fio de água sumido nas areias, –
Vejo estátuas dramáticas de argila
Com dedadas fatais de mãos alheias!

José Campos de Figueiredo (n. em Coimbra a 6 Maio 1899, m. em Coimbra a 29 Nov. 1965)

Ler do mesmo autor neste blog: Fingimento

 

Fingimento – Campos de Figueiredo Maio 6, 2007

Filed under: Campos de Figueiredo,poesia — looking4good @ 10:50 pm

Iludo o sentido
Da vida em que vivo.
O mundo que sinto
É mundo que minto.

É mundo pensado
Aquém, do outro lado
Da margem do rio
Com águas em fio.

A imagem dos astros,
Das velas, dos mastros,
Das nuvens, das margens
É sombra de imagens.

Perdidas no fundo
Do engano do mundo.
Não quero a certeza
Da minha tristeza.

Deixai-me à vontade
Naquela verdade
Pensada e fingida
Que é logro de vida.

Se minto o que sinto,
De tudo o que minto
Iludo o sentido
Da vida que vivo.

José Campos de Figueiredo (n. em Coimbra a 6 Maio 1899, m. 29 Nov. 1965)