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Indiferença – Guilherme de Almeida Julho 24, 2008

Filed under: Guilherme de Almeida,poesia — looking4good @ 12:11 am

Hoje, voltas-me o rosto, se ao teu lado
passo. E eu, baixo os meus olhos se te avisto.
E assim fazemos, como se com isto,
pudéssemos varrer nosso passado.

Passo esquecido de te olhar, coitado!
Vais, coitada, esquecida de que existo.
Como se nunca me tivesses visto,
como se eu sempre não te houvesse amado

Mas, se às vezes, sem querer nos entrevemos,
se quando passo, teu olhar me alcança
se meus olhos te alcançam quando vais.

Ah! Só Deus sabe! Só nós dois sabemos.
Volta-nos sempre a pálida lembrança.
Daqueles tempos que não voltam mais!

Guilherme de Andrade e Almeida (n. em Campinas, SP, a 24 de Julho de 1890; m. em São Paulo, SP, a 11 de Julho de 1969).

Ler outros poemas do mesmo autor:
O Idílio Suave
Fico – Deixas-me Velho. Moça e Bela
Essa Que Eu Hei-de Amar

 

O Idílio Suave – Guilherme de Almeida Julho 24, 2007

Filed under: Guilherme de Almeida,poesia — looking4good @ 1:45 pm

Chegas. Vens tão ligeira
e és tão ansiosamente esperada, que enfim,
nem te sentindo o passo e já te tendo inteira,
completamente em mim,
quando, toda Watteau, silenciosa, apareces,
é como se não viesses.

Vens… E ficas tão perto
de mim, e tão diluída em minha solidão,
que eu me sinto sozinho e acho imenso e deserto
e vazio o salão…
E, sem te ouvir nem ver, arde-me em febre a face,
como se eu te esperasse!

Partes. Mas é tão pouco
o que de ti se vai que ainda te vejo o arfar
do seio, e o teu cabelo, e o teu vestido louco,
e a carícia do olhar,
e a tua boca em flor a dizer-me doidices,
como se não partisses!

in Poesia Brasileira do Século XX Dos Modernistas à Actualidade
Edições Antígona

Guilherme de Andrade e Almeida (n. em Campinas, São Paulo a 24 de Jul de 1890; m. em São Paulo a 11 de Jul 1969]

Ler do mesmo autor:

 

O Idílio Suave – Guilherme de Almeida

Filed under: Guilherme de Almeida,poesia — looking4good @ 1:45 pm

Chegas. Vens tão ligeira
e és tão ansiosamente esperada, que enfim,
nem te sentindo o passo e já te tendo inteira,
completamente em mim,
quando, toda Watteau, silenciosa, apareces,
é como se não viesses.

Vens… E ficas tão perto
de mim, e tão diluída em minha solidão,
que eu me sinto sozinho e acho imenso e deserto
e vazio o salão…
E, sem te ouvir nem ver, arde-me em febre a face,
como se eu te esperasse!

Partes. Mas é tão pouco
o que de ti se vai que ainda te vejo o arfar
do seio, e o teu cabelo, e o teu vestido louco,
e a carícia do olhar,
e a tua boca em flor a dizer-me doidices,
como se não partisses!

in Poesia Brasileira do Século XX Dos Modernistas à Actualidade
Edições Antígona

Guilherme de Andrade e Almeida (n. em Campinas, São Paulo a 24 de Jul de 1890; m. em São Paulo a 11 de Jul 1969]

Ler do mesmo autor:

 

O Idílio Suave – Guilherme de Almeida

Filed under: Guilherme de Almeida,poesia — looking4good @ 1:45 pm

Chegas. Vens tão ligeira
e és tão ansiosamente esperada, que enfim,
nem te sentindo o passo e já te tendo inteira,
completamente em mim,
quando, toda Watteau, silenciosa, apareces,
é como se não viesses.

Vens… E ficas tão perto
de mim, e tão diluída em minha solidão,
que eu me sinto sozinho e acho imenso e deserto
e vazio o salão…
E, sem te ouvir nem ver, arde-me em febre a face,
como se eu te esperasse!

Partes. Mas é tão pouco
o que de ti se vai que ainda te vejo o arfar
do seio, e o teu cabelo, e o teu vestido louco,
e a carícia do olhar,
e a tua boca em flor a dizer-me doidices,
como se não partisses!

in Poesia Brasileira do Século XX Dos Modernistas à Actualidade
Edições Antígona

Guilherme de Andrade e Almeida (n. em Campinas, São Paulo a 24 de Jul de 1890; m. em São Paulo a 11 de Jul 1969]

Ler do mesmo autor:

 

Fico – deixas-me velho … – Guilherme de Almeida Julho 11, 2007

Filed under: Guilherme de Almeida,poesia — looking4good @ 12:01 pm
foto: Gerânios encarnados à janela

Fico – deixas-me velho. Moça e bela,
partes. Estes gerânios encarnados,
que na janela vivem debruçados,
vão morrer debruçados na janela.

E o piano, o teu canário tagarela,
a lâmpada, o divã, os cortinados:
– “Que é feito dela?” – indagarão – coitados!
E os amigos dirão: – “Que é feito dela?”

Parte! E se, olhando atrás, da extrema curva
da estrada, vires, esbatida e turva,
tremer a alvura dos cabelos meus;

irás pensando, pelo teu caminho,
que essa pobre cabeça de velhinho
é um lenço branco que te diz adeus!

Guilherme de Andrade e Almeida (n. em Campinas, SP, a 24 de Julho de 1890; m. em São Paulo, SP, a 11 de Julho de 1969)

 

Fico – deixas-me velho … – Guilherme de Almeida

Filed under: Guilherme de Almeida,poesia — looking4good @ 12:01 pm
foto: Gerânios encarnados à janela

Fico – deixas-me velho. Moça e bela,
partes. Estes gerânios encarnados,
que na janela vivem debruçados,
vão morrer debruçados na janela.

E o piano, o teu canário tagarela,
a lâmpada, o divã, os cortinados:
– “Que é feito dela?” – indagarão – coitados!
E os amigos dirão: – “Que é feito dela?”

Parte! E se, olhando atrás, da extrema curva
da estrada, vires, esbatida e turva,
tremer a alvura dos cabelos meus;

irás pensando, pelo teu caminho,
que essa pobre cabeça de velhinho
é um lenço branco que te diz adeus!

Guilherme de Andrade e Almeida (n. em Campinas, SP, a 24 de Julho de 1890; m. em São Paulo, SP, a 11 de Julho de 1969)

 

Fico – deixas-me velho … – Guilherme de Almeida

Filed under: Guilherme de Almeida,poesia — looking4good @ 12:01 pm
foto: Gerânios encarnados à janela

Fico – deixas-me velho. Moça e bela,
partes. Estes gerânios encarnados,
que na janela vivem debruçados,
vão morrer debruçados na janela.

E o piano, o teu canário tagarela,
a lâmpada, o divã, os cortinados:
– “Que é feito dela?” – indagarão – coitados!
E os amigos dirão: – “Que é feito dela?”

Parte! E se, olhando atrás, da extrema curva
da estrada, vires, esbatida e turva,
tremer a alvura dos cabelos meus;

irás pensando, pelo teu caminho,
que essa pobre cabeça de velhinho
é um lenço branco que te diz adeus!

Guilherme de Andrade e Almeida (n. em Campinas, SP, a 24 de Julho de 1890; m. em São Paulo, SP, a 11 de Julho de 1969)

 

Essa que eu hei de amar… – Guilherme de Almeida Julho 24, 2006

Filed under: Guilherme de Almeida,poesia — looking4good @ 12:00 pm

Essa que eu hei de amar perdidamente um dia
será tão loura, e clara, e vagarosa, e bela,
que eu pensarei que é o sol que vem, pela janela,
trazer luz e calor a essa alma escura e fria.

E quando ela passar, tudo o que eu não sentia
da vida há de acordar no coração, que vela…
E ela irá como o sol, e eu irei atrás dela
como sombra feliz… — Tudo isso eu me dizia,

quando alguém me chamou. Olhei: um vulto louro,
e claro, e vagaroso, e belo, na luz de ouro
do poente, me dizia adeus, como um sol triste…

E falou-me de longe: “Eu passei a teu lado,
mas ias tão perdido em teu sonho dourado,
meu pobre sonhador, que nem sequer me viste!”

Guilherme de Almeida (n. Campinas SP, 24 Jul 1890 – m. São Paulo, 11 de Jul de 1969).