Nothingandall

Just another WordPress.com weblog

O amor é uma companhia – Fernando Pessoa Junho 13, 2009

Filed under: amor,Fernando Pessoa,poesia — looking4good @ 10:05 am

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

Alberto Caeiro, um dos heterónimos de Fernando António Nogueira Pessoa (n. em Lisboa a 13 Jun. 1888 — m. em Lisboa a 30 de Nov. de 1935).

Mais poemas de Fernando Pessoa, neste blog:
Tabacaria
Liberdade
Intervalo – Bernardo Soares
O guardador de rebanhos – X (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos – XXI (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos – XXVIII (Alberto Caeiro)
O Tejo é mais belo …
Não sei se é sonho se é realidade
Odes – Ricardo Reis
Cruz na porta da tabacaria
Fragmentos do Livro do desassossego – Bernardo Soares
Afinal a melhor maneira de viajar é sentir…
Todas as cartas de amor são…
Se te queres matar …
Dai-me rosas e lírios…
Sou vil, sou reles como toda a gente…
Não sei se é amor que tens
O que há em mim é sobretudo cansaço
Mar português
Ode marcial – h
Lycanthropy
Conselho
Para além da curva da estrada (Alberto Caeiro)
Sopra demais o vento
Poema da Canção sobre a Esperança
Soneto 1 de 35 sonetos (Poesia Inglesa) – em português
Sonnet 1 (from 35 Sonnets)
Criança Desconhecida (Alberto Caeiro)
Depois de que as ùltimas Chuvas Deixaram o Céu (Bernardo Soares)
My love and not I is the egoist
Prece
Não Sei Ser Triste

 

1 Jun – Dia da Criança Junho 1, 2009

Filed under: Alberto Caeiro,Dia,Fernando Pessoa,poesia — looking4good @ 6:18 am


Criança Desconhecida

Criança desconhecida e suja brincando à minha porta,
Não te pergunto se me trazes um recado dos símbolos.
Acho-te graça por nunca te ter visto antes,
E naturalmente se pudesses estar limpa eras outra criança,
Nem aqui vinhas.
Brinca na poeira, brinca!
Aprecio a tua presença só com os olhos.
Vale mais a pena ver uma cousa sempre pela primeira vez que conhecê-la,
Porque conhecer é como nunca ter visto pela primeira vez,
E nunca ter visto pela primeira vez é só ter ouvido contar.

O modo como esta criança está suja é diferente do modo como as outras estão sujas.
Brinca! pegando numa pedra que te cabe na mão,
Sabes que te cabe na mão.
Qual é a filosofia que chega a uma certeza maior?
Nenhuma, e nenhuma pode vir brincar nunca à minha porta.

Alberto Caeiro, in “Poemas Inconjuntos”, Heterónimo de Fernando Pessoa

 

Depois que as últimas chuvas deixaram o céu… – Bernardo Soares Abril 3, 2009

Filed under: Bernardo Soares,Fernando Pessoa,poesia — looking4good @ 5:35 am

Depois que as últimas chuvas deixaram o céu e ficaram na terra – céu limpo, terra húmida e espelhenta – a clareza maior da vida que com o azul voltou ao alto, e na frescura de ter havido água se alegrou em baixo, deixou um céu próprio nas almas, uma frescura sua nos corações.

Somos, por pouco que o queiramos, servos da hora e das suas cores e formas, súbditos do céu e da terra. Aquele de nós que mais se embrenhe em si mesmo, desprezando o que o cerca, esse mesmo se não embrenha pelos mesmos caminhos quando chove do que quando o céu está bom. Obscuras transmutações, sentidas talvez só no íntimo dos sentimentos abstractos, se operam porque chove ou deixou de chover, se sentem sem que se sintam porque sem sentir o tempo se sentiu.

Cada um de nós é vários, é muitos, é uma prolixidade de si mesmos. Por isso aquele que despreza o ambiente não é o mesmo que dele se alegra ou padece. Na vasta colónia do nosso ser há gente de muitas espécies, pensando e sentindo diferentemente. Neste mesmo momento, em que escrevo, num intervalo legítimo do trabalho hoje escasso, estas outras palavras de impressão, sou o que as escreve atentamente, sou o que está contente de não ter nesta hora de trabalhar, sou o que está vendo o céu lá fora, invisível de aqui, sou o que está pensando isto tudo, sou o que sente o corpo contente e as mãos ainda vagamente frias. E todo este mundo meu de gente entre si alheia projecta, como uma multidão diversa mas compacta, uma somra única – este corpo quieto e escrevente com que reclino, de pé, contra a secretária alta do Borges onde vim buscar o meu mata-borrão, que lhe emprestara.

in Obra Essencial de Fernando Pessoa, Livro do Desassossego, Composto por Bernardo Soares, ajudante de guarda-livros na cidade de Lisboa; edição Richard Zenith, Círculo de Leitores

 

My love, and not I, is the egoist – Fernando Pessoa (no 73º. aniversário da sua morte) Novembro 30, 2008

Filed under: Fernando Pessoa,poesia,poetry — looking4good @ 2:21 am

My love, and not I, is the egoist.
My love for thee loves itself more than thee;
Ay, more than me, in whom it doth exist,
And makes me live that it may feed on me.
In the country of bridges the bridge is
More real than the shores it doth unsever;
So in our world, all of Relation, this
Is true–that truer is Love than either lover.
This thought therefore comes lightly to Doubt’s door–
If we, seeing substance of this world, are not
Mere Intervals, God’s Absence and no more,
Hollows in real Consciousness and Thought.
And if ‘tis possible to Thought to bear this fruit,
Why should it not be possible to Truth?

FERNANDO António Nogueira PESSOA nasceu a 13 de Junho de 1888 (dia de Fernando de Bulhões, Sto. António) em Lisboa, onde faleceria, de uma pancreatite, devida a abuso do álcool, a 30 de Novembro de 1935. Filho de um crítico musical, herdou do pai o excepcional ouvido, mas cedo ficou órfão (1893) e «o menino de sua mãe», casada em segundas núpcias (1895) com o cônsul de Portugal em Durban, foi levado para a União Sul-Africana (Comunidade Britânica), onde se tornou bilingue, chegando a obter o prémio Rainha Vitória de redacção em inglês (1903). Em Agosto de 1905, regressou à Pátria, fixando residência na capital em que nascera e de onde jamais sairia. Ainda se inscreveu no Curso Superior de Letras, mas com pouca demora, optando por viver como correspondente comercial. Nunca casou, mas foi pai de muitos poetas: Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Álvaro de Campos, Alexander Search, etc., etc. Foi um dos fundadores e dirigentes da famigerada revista «Orpheu» (1915) e escreveu infatigavelmente a sua obra bem como a dos seus filhos, deixando-as numa arca, cujo conteúdo ainda hoje está longe de se ter esgotado. Além dos «English Poems», só publicou em vida a «Mensagem» (1934), que, ao contrário do que sustentam os jornalistas, foi galardoada, «ex-aequo», com o prémio Antero de Quental do Secretariado da Propaganda Nacional. Não morria de amores por Camões, talvez por nele reconhecer o seu único rival em língua portuguesa, mas se o autor d’ «Os Lusíadas» era um poeta italiano que escrevia em português, Pessoa também é, por vezes, um poeta britânico que se exprime na língua de Portugal.

Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado – Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

Mais poemas de Fernando Pessoa, neste blog:
Tabacaria

Liberdade
Intervalo – Bernardo Soares
O guardador de rebanhos – X (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos – XXI (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos – XXVIII (ALlberto Caeiro)
O Tejo é mais belo …
Não sei se é sonho se é realidade
Odes – Ricardo Reis
Cruz na porta da tabacaria
Fragmentos do Livro do desassossego – Bernardo Soares
Afinal a melhor maneira de viajar é sentir…
Todas as cartas de amor são…
Se te queres matar …
Dai-me rosas e lírios…
Sou vil, sou reles como toda a gente…
Não sei se é amor que tens
O que há em mim é sobretudo cansaço
Mar português
Ode marcial – h
Lycanthropy
Conselho
Para além da curva da estrada (Alberto Caeiro)
Sopra demais o vento
Poema da Canção sobre a Esperança
Soneto 1 de 35 sonetos (Poesia Inglesa) – em português
Sonnet 1 (from 35 Sonnets)

 

NÃO SEI SER TRISTE… – Fernando Pessoa Junho 13, 2008

Filed under: Fernando Pessoa,poesia — looking4good @ 6:15 am

Na efeméride do 120º. aniversário do nascimento do poeta:

NÃO SEI SER TRISTE a valer
Nem ser alegre deveras
Acreditem: não sei ser.
Serão as almas sinceras
Assim também, sem saber?

Ah, ante a ficção da alma
E a mentira da emoção
Com que prazer me dá calma
Ver uma flor sem razão
Florir sem ter coração!

Mas enfim não há diferença.
Se a flor flore sem querer,
Sem querer a gente pensa.
O que nela é florescer
Em nós é ter consciência.

Depois, a nós como a ela,
Quando o Fado os faz passar,
Surgem as patas dos deuses
E a ambos nos vêm calcar.

‘Stá bem, enquanto não vêm,
Vamos florir ou pensar.

3-4-1931

in Obra Essencial de Fernando Pessoa – Poesia do Eu , edição Richard Zenith, Assírio & Alvim

Fernando António Nogueira Pessoa (n. em Lisboa a 13 Jun. 1888 — m. em Lisboa a 30 de Nov. de 1935).

Mais poemas de Fernando Pessoa, neste blog:
Tabacaria
Liberdade
Intervalo – Bernardo Soares
O guardador de rebanhos – X (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos – XXI (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos – XXVIII (ALlberto Caeiro)
O Tejo é mais belo …
Não sei se é sonho se é realidade
Odes – Ricardo Reis
Cruz na porta da tabacaria
Fragmentos do Livro do desassossego – Bernardo Soares
Afinal a melhor maneira de viajar é sentir…
Todas as cartas de amor são…
Se te queres matar …
Dai-me rosas e lírios…
Sou vil, sou reles como toda a gente…
Não sei se é amor que tens
O que há em mim é sobretudo cansaço
Mar português
Ode marcial – h
Lycanthropy
Conselho
Para além da curva da estrada (Alberto Caeiro)
Sopra demais o vento
Poema da Canção sobre a Esperança
Soneto 1 de 35 sonetos (Poesia Inglesa) – em português
Sonnet 1 (from 35 Sonnets)

 

NÃO SEI SER TRISTE… – Fernando Pessoa

Filed under: Fernando Pessoa,poesia — looking4good @ 6:15 am

Na efeméride do 120º. aniversário do nascimento do poeta:

NÃO SEI SER TRISTE a valer
Nem ser alegre deveras
Acreditem: não sei ser.
Serão as almas sinceras
Assim também, sem saber?

Ah, ante a ficção da alma
E a mentira da emoção
Com que prazer me dá calma
Ver uma flor sem razão
Florir sem ter coração!

Mas enfim não há diferença.
Se a flor flore sem querer,
Sem querer a gente pensa.
O que nela é florescer
Em nós é ter consciência.

Depois, a nós como a ela,
Quando o Fado os faz passar,
Surgem as patas dos deuses
E a ambos nos vêm calcar.

‘Stá bem, enquanto não vêm,
Vamos florir ou pensar.

3-4-1931

in Obra Essencial de Fernando Pessoa – Poesia do Eu , edição Richard Zenith, Assírio & Alvim

Fernando António Nogueira Pessoa (n. em Lisboa a 13 Jun. 1888 — m. em Lisboa a 30 de Nov. de 1935).

Mais poemas de Fernando Pessoa, neste blog:
Tabacaria
Liberdade
Intervalo – Bernardo Soares
O guardador de rebanhos – X (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos – XXI (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos – XXVIII (ALlberto Caeiro)
O Tejo é mais belo …
Não sei se é sonho se é realidade
Odes – Ricardo Reis
Cruz na porta da tabacaria
Fragmentos do Livro do desassossego – Bernardo Soares
Afinal a melhor maneira de viajar é sentir…
Todas as cartas de amor são…
Se te queres matar …
Dai-me rosas e lírios…
Sou vil, sou reles como toda a gente…
Não sei se é amor que tens
O que há em mim é sobretudo cansaço
Mar português
Ode marcial – h
Lycanthropy
Conselho
Para além da curva da estrada (Alberto Caeiro)
Sopra demais o vento
Poema da Canção sobre a Esperança
Soneto 1 de 35 sonetos (Poesia Inglesa) – em português
Sonnet 1 (from 35 Sonnets)

 

NÃO SEI SER TRISTE… – Fernando Pessoa

Filed under: Fernando Pessoa,poesia — looking4good @ 6:15 am

Na efeméride do 120º. aniversário do nascimento do poeta:

NÃO SEI SER TRISTE a valer
Nem ser alegre deveras
Acreditem: não sei ser.
Serão as almas sinceras
Assim também, sem saber?

Ah, ante a ficção da alma
E a mentira da emoção
Com que prazer me dá calma
Ver uma flor sem razão
Florir sem ter coração!

Mas enfim não há diferença.
Se a flor flore sem querer,
Sem querer a gente pensa.
O que nela é florescer
Em nós é ter consciência.

Depois, a nós como a ela,
Quando o Fado os faz passar,
Surgem as patas dos deuses
E a ambos nos vêm calcar.

‘Stá bem, enquanto não vêm,
Vamos florir ou pensar.

3-4-1931

in Obra Essencial de Fernando Pessoa – Poesia do Eu , edição Richard Zenith, Assírio & Alvim

Fernando António Nogueira Pessoa (n. em Lisboa a 13 Jun. 1888 — m. em Lisboa a 30 de Nov. de 1935).

Mais poemas de Fernando Pessoa, neste blog:
Tabacaria
Liberdade
Intervalo – Bernardo Soares
O guardador de rebanhos – X (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos – XXI (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos – XXVIII (ALlberto Caeiro)
O Tejo é mais belo …
Não sei se é sonho se é realidade
Odes – Ricardo Reis
Cruz na porta da tabacaria
Fragmentos do Livro do desassossego – Bernardo Soares
Afinal a melhor maneira de viajar é sentir…
Todas as cartas de amor são…
Se te queres matar …
Dai-me rosas e lírios…
Sou vil, sou reles como toda a gente…
Não sei se é amor que tens
O que há em mim é sobretudo cansaço
Mar português
Ode marcial – h
Lycanthropy
Conselho
Para além da curva da estrada (Alberto Caeiro)
Sopra demais o vento
Poema da Canção sobre a Esperança
Soneto 1 de 35 sonetos (Poesia Inglesa) – em português
Sonnet 1 (from 35 Sonnets)

 

NÃO SEI SER TRISTE… – Fernando Pessoa

Filed under: Fernando Pessoa,poesia — looking4good @ 6:15 am

Na efeméride do 120º. aniversário do nascimento do poeta:

NÃO SEI SER TRISTE a valer
Nem ser alegre deveras
Acreditem: não sei ser.
Serão as almas sinceras
Assim também, sem saber?

Ah, ante a ficção da alma
E a mentira da emoção
Com que prazer me dá calma
Ver uma flor sem razão
Florir sem ter coração!

Mas enfim não há diferença.
Se a flor flore sem querer,
Sem querer a gente pensa.
O que nela é florescer
Em nós é ter consciência.

Depois, a nós como a ela,
Quando o Fado os faz passar,
Surgem as patas dos deuses
E a ambos nos vêm calcar.

‘Stá bem, enquanto não vêm,
Vamos florir ou pensar.

3-4-1931

in Obra Essencial de Fernando Pessoa – Poesia do Eu , edição Richard Zenith, Assírio & Alvim

Fernando António Nogueira Pessoa (n. em Lisboa a 13 Jun. 1888 — m. em Lisboa a 30 de Nov. de 1935).

Mais poemas de Fernando Pessoa, neste blog:
Tabacaria
Liberdade
Intervalo – Bernardo Soares
O guardador de rebanhos – X (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos – XXI (Alberto Caeiro)
O guardador de rebanhos – XXVIII (ALlberto Caeiro)
O Tejo é mais belo …
Não sei se é sonho se é realidade
Odes – Ricardo Reis
Cruz na porta da tabacaria
Fragmentos do Livro do desassossego – Bernardo Soares
Afinal a melhor maneira de viajar é sentir…
Todas as cartas de amor são…
Se te queres matar …
Dai-me rosas e lírios…
Sou vil, sou reles como toda a gente…
Não sei se é amor que tens
O que há em mim é sobretudo cansaço
Mar português
Ode marcial – h
Lycanthropy
Conselho
Para além da curva da estrada (Alberto Caeiro)
Sopra demais o vento
Poema da Canção sobre a Esperança
Soneto 1 de 35 sonetos (Poesia Inglesa) – em português
Sonnet 1 (from 35 Sonnets)

 

Prece – Fernando Pessoa Maio 11, 2008

Filed under: Fernando Pessoa,poesia — looking4good @ 4:47 pm
O Mar foto daqui

SENHOR, a noite veio e a alma é vil
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade

Mas a chama, que a vida em nós criou
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda

Dá o sopro, a aragem – ou desgraça ou ânsia –,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância –
Do mar ou outra, mas que seja nossa.

Fernando Pessoa

 

Prece – Fernando Pessoa

Filed under: Fernando Pessoa,poesia — looking4good @ 4:47 pm
O Mar foto daqui

SENHOR, a noite veio e a alma é vil
Tanta foi a tormenta e a vontade!
Restam-nos hoje, no silêncio hostil,
O mar universal e a saudade

Mas a chama, que a vida em nós criou
Se ainda há vida ainda não é finda.
O frio morto em cinzas a ocultou:
A mão do vento pode erguê-la ainda

Dá o sopro, a aragem – ou desgraça ou ânsia –,
Com que a chama do esforço se remoça,
E outra vez conquistemos a Distância –
Do mar ou outra, mas que seja nossa.

Fernando Pessoa