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Paixão Única – Camilo Castelo Branco Março 16, 2009

Filed under: Camilo Castelo Branco,poesia — looking4good @ 1:20 am

Quem me dera poder ver-te
Ai! Quem me dera dizer-te
Que pude amar-te e perder-te
Mas olvidar-te… isso não!
Que no ardor de outros amores,
Senti vivas sempre as dores
Duma remota paixão.

Com que dorida saudade
Penso nessa mocidade,
Nessa vaga ansiedade
Que soubeste compreender!
E tu só , só tu soubeste
Que, num mundo como este,
Qual florinha em penha agreste,
Pode a flor d’alma morrer.

Orvalhaste-a, quando ainda
Ao nascer, singela e linda,
Respirava a esp’rança infinda
Que consigo a infância tem.
Amparaste-a, quando o norte
Das paixões, soprando forte,
Lhe quis dar rápida morte
Como à cândida cecém!

E depois nuvem escura
Lá no céu desta ventura
Enlutou-me a aurora pura
Dos meus anos infantis.
Nesta vida houve um espaço
Onde nunca dei um passo
Em que não deixasse um traço
De paixões torpes e vis!

E não tenho outra memória
Que me inspire altiva glória
Mem outro nome na história
De meus delírios fatais.
Se percorro a longa escala
De paixões que a honra cala,
Quem dum nobre amor me fala
És só tu… e ninguém mais!

És só tu! De resto, apenas
Nestas variadas cenas
De ilusões e inglórias penas
Nada sinto o que perdi!…
Sinto bem esse desdouro
Que comprei com falso ouro,
Em desprezo dum tesouro
Que só pude achar em ti!

in Os dias do Amor. Um poema para cada dia do ano. Recolha, selecção e organização de Inês Ramos. Prefácio de Henrique Manuel Bento Fialho. inistério dos Livros, 2009

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (n. em Lisboa a 16 de Março de 1825; m. (suicídio) em S. Miguel de Ceide, Famalicão a 1 de Junho de 1890).

Ler do mesmo autor Anel

 

Anel – Camilo Castelo Branco Março 16, 2008

Filed under: Camilo Castelo Branco,poesia — looking4good @ 2:44 am


Dá-me um anel; mas que seja
Como o anel em que cingida
Tem gemido toda a minha vida.
Dá-me um anel; mas de ferro,
Negro, bem negro, da cor
Desta minha acerba dor,
Deste meu negro desterro!

Dá-me um anel; mas de ferro…
Sempre comigo hei-de tê-lo;
Há-de ser o negro elo,
Que me prenda à sepultura.
Quero-o negro…seja o estigma,
que decifre o escuro enigma,
Duma grande desventura.

Dá-me um anel; mas de ferro,
Que resista mais que os ossos
Dum cadáver aos destroços
Do roaz verme do pó.
Entre as cinzas alvacentas,
como espólio das tormentas
Apareça o ferro só.

E o teu nome impresso nele,
Falará dum grande amor,
Nutrido em ânsias de dor,
Pelo fel da sociedade…
Que teu nome nele escrito,
Nesse padrão infinito,
Vá comigo à Eternidade.

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (n. em Lisboa a 16 de Março de 1825; m. (suicídio) em S. Miguel de Ceide, Famalicão a 1 de Junho de 1890)

 

Anel – Camilo Castelo Branco

Filed under: Camilo Castelo Branco,poesia — looking4good @ 2:44 am


Dá-me um anel; mas que seja
Como o anel em que cingida
Tem gemido toda a minha vida.
Dá-me um anel; mas de ferro,
Negro, bem negro, da cor
Desta minha acerba dor,
Deste meu negro desterro!

Dá-me um anel; mas de ferro…
Sempre comigo hei-de tê-lo;
Há-de ser o negro elo,
Que me prenda à sepultura.
Quero-o negro…seja o estigma,
que decifre o escuro enigma,
Duma grande desventura.

Dá-me um anel; mas de ferro,
Que resista mais que os ossos
Dum cadáver aos destroços
Do roaz verme do pó.
Entre as cinzas alvacentas,
como espólio das tormentas
Apareça o ferro só.

E o teu nome impresso nele,
Falará dum grande amor,
Nutrido em ânsias de dor,
Pelo fel da sociedade…
Que teu nome nele escrito,
Nesse padrão infinito,
Vá comigo à Eternidade.

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (n. em Lisboa a 16 de Março de 1825; m. (suicídio) em S. Miguel de Ceide, Famalicão a 1 de Junho de 1890)

 

Anel – Camilo Castelo Branco

Filed under: Camilo Castelo Branco,poesia — looking4good @ 2:44 am


Dá-me um anel; mas que seja
Como o anel em que cingida
Tem gemido toda a minha vida.
Dá-me um anel; mas de ferro,
Negro, bem negro, da cor
Desta minha acerba dor,
Deste meu negro desterro!

Dá-me um anel; mas de ferro…
Sempre comigo hei-de tê-lo;
Há-de ser o negro elo,
Que me prenda à sepultura.
Quero-o negro…seja o estigma,
que decifre o escuro enigma,
Duma grande desventura.

Dá-me um anel; mas de ferro,
Que resista mais que os ossos
Dum cadáver aos destroços
Do roaz verme do pó.
Entre as cinzas alvacentas,
como espólio das tormentas
Apareça o ferro só.

E o teu nome impresso nele,
Falará dum grande amor,
Nutrido em ânsias de dor,
Pelo fel da sociedade…
Que teu nome nele escrito,
Nesse padrão infinito,
Vá comigo à Eternidade.

Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (n. em Lisboa a 16 de Março de 1825; m. (suicídio) em S. Miguel de Ceide, Famalicão a 1 de Junho de 1890)