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Centenário do nascimento de Dalcídio Jurandir Janeiro 10, 2009

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Chove nos campos de Cachoeira
E Dalcídio Jurandir já morreu

Chove sobre a campa de Dalcídio Jurandir
E sobre qualquer outra campa

A chuva não é um epílogo,
Tampouco significa sentença ou esquecimento…

(Carlos Drummond de Andrade)

Dalcídio Jurandir Ramos Pereira nasceu em Ponta de Pedras, ilha do Marajó, estado do Pará, Brasil faz hoje 100 anos. Faleceu em 16 de Junho de 1979 na cidade do Rio de Janeiro onde viveu a maior parte da sua vida.

O Romancista da Amazônia, teve uma actividade profissional como jornalista e vencendo o concurso literário instituído pelo jornal Dom Casmurro e a editora Vecchi com Chove nos Campos da Cachoeira partiu para uma carreira literária de grande significado.

Entre outros, foi-lhe atribuído o Prémio Luíza Cláudio de Souza, do Pen Clube Brasil, e em 1972 pelo conjunto da sua obra recebeu o prémio Machado de Assis instituído pela Academia de Letras Brasileira.

Dentre os livros escritos por Dalcídio Jurandir está a série “Extremo-Norte” que contempla para além do acima citado “Chove nos Campos de Cachoeira”, “Marajó” (1947), “Três Casas e um Rio” (1958), “Belém do Grão-Pará” (1960), “Passagem dos Inocentes” (1963), “Primeira Manhã” (1968), “Ponte do Galo” (1971), “Os Habitantes” (1976), “Chão dos Lobos” (1976) e “Ribanceira” (1978); a série “Extremo Sul”, incluiu “Linha do Parque” (1959).

Algumas destas obras, concretamente: “Passagem dos inocentes” (1984), “Chove nos campos de Cachoeira” (1991 e 1996), “Marajó” (1992), “Três casas e um rio” (1994) e “Belém do Grão-Pará” (2004), foram de novo publicadas após a morte do autor. Espera-se que a passagem do centenário venha a frutificar em reedição total da sua obra, praticamente desconhecida em Portugal (foi publicada uma edição de Belém do Grão- Pará, com prefácio de Ferreira de Castro).

Foi membro do Partido Comunista desde 1935 tendo sofrido perseguições e passado alguns meses preso em 1936 e 1937.

A prefeitura de Belém homenageia o autor, dando seu nome a uma praça pública naquela cidade.

O prefeito da cidade do Rio de Janeiro, Dr. Israel Klabin, deu seu nome a uma rua no Condomínio Riviera dei Fiori, na Barra da Tijuca.

Em Ponta de Pedras, sua cidade natal, há uma escola com seu nome.

Em 2008, o Governo do Estado do Pará instituiu o Prêmio de Literatura Dalcídio Jurandir.

«Dalcídio Jurandir é autor que necessita ser redescoberto pela crítica nacional. Embora romancista, o tratamento poético da linguagem, empreendido pelo escritor marajoara, faz dele autor único no cenário brasileiro. O estilo de escrita do autor, demarcado pela poética das águas, deu margem a uma leitura devaneante que aqui denominamos de aquotexto» escreveu Paulo Nunes, professor de literatura (daqui)

Prossegue: “Dalcídio Jurandir é um escritor admirável. Disciplinadamente, ele construiu, com os tijolos moldados no barro marajoara, uma obra ímpar na literatura brasileira. São cinqüenta anos de trabalho que se espraiam de 1929 (data provável da primeira versão de Chove nos campos de Cachoeira) a 1979 (quando veio a falecer no Rio de Janeiro).”

Transcrevemos, de seguida, um excerto de Chove nos Campos de Cachoeira:

“Uma nuvem mais pesada de chuva cresceu no céu. Quando chove, Cachoeira fica encharcada. Os campos de Cachoeira vinham de longe olhar as casa da vila à beira do rio, com desejo de partir com aquelas águas. Quando chovia, mesmo verão, as chuvas eram grandes e os campos alagados. Eutanázio gostava um bocado de passear pelos campos. De atravessar os campos para chegar à casa de seu Cristóvão que ficava na ponta da rua para os lavrados. Às vezes chegava para ver Irene, com a roupa escorrendo, os cabelos pingando. Irene ria. D. Tomázia sacudia a cabeça com pena. D. Dejanira tirava o cachimbo da boca e suplicava:
– Seu Eutanázio, pelo amor de Deus vá tirar esta blusa. Valhame Deus!
A nuvem de chuva crescia. Os campos escureciam ao largo como se fossem um mar no mau tempo”.


Scarlet Ibis, Ilha do Marajó by mircaskirca imagem daqui