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Porque – Sophia de Mello Breiner Andresen Novembro 6, 2008

Filed under: poesia,Sophia de Mello Breiner Andresen — looking4good @ 2:12 am

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

SOPHIA de Mello Breyner ANDRESEN nasceu no Porto a 6 de Novembro de 1919, de ascendência dinamarquesa. Frequentou Filologia Clássica na Faculdade de Letras de Lisboa, mas não concluiu o curso. Estreou-se nas letras com «Poesia» (1944). Traduziu Dante («Purgatório»), Shakespeare («Hamlet»), Claudel («Anunciação a Maria»), e verteu para francês poemas de Camões, Cesário, Pessoa e Sá-Carneiro («Quatre Poètes Portugais», P.U.F., 1970). Foi influenciada por Hölderlin, Rilke, Pascoaes, Pessoa e Cecília Meireles. A sua poesia é distante e apaixonada, concisa e eloquente, fluente e escultural; em suma, poesia pura, reveladora de uma rara exigência de essencialidade. O seu ideal é de depuração e contenção, despojamento e sobriedade. Poesia órfica, já que o poeta é um medianeiro e o ofício poético uma celebração (magia e exorcismo, paganismo helénico e expressão clássica). Em 1999, foi galardoada com o prémio Camões.
Poema extraído de «Os poemas da minha vida – Diogo Freitas do Amaral, Público». Nota biobibliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado – Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

Outros poemas da mesma autora aqui no blog:
Promessa
Liberdade
Soneto
Pudesse eu
Partida

 

Porque – Sophia de Mello Breiner Andresen

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Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão
Porque os outros têm medo mas tu não

Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

SOPHIA de Mello Breyner ANDRESEN nasceu no Porto a 6 de Novembro de 1919, de ascendência dinamarquesa. Frequentou Filologia Clássica na Faculdade de Letras de Lisboa, mas não concluiu o curso. Estreou-se nas letras com «Poesia» (1944). Traduziu Dante («Purgatório»), Shakespeare («Hamlet»), Claudel («Anunciação a Maria»), e verteu para francês poemas de Camões, Cesário, Pessoa e Sá-Carneiro («Quatre Poètes Portugais», P.U.F., 1970). Foi influenciada por Hölderlin, Rilke, Pascoaes, Pessoa e Cecília Meireles. A sua poesia é distante e apaixonada, concisa e eloquente, fluente e escultural; em suma, poesia pura, reveladora de uma rara exigência de essencialidade. O seu ideal é de depuração e contenção, despojamento e sobriedade. Poesia órfica, já que o poeta é um medianeiro e o ofício poético uma celebração (magia e exorcismo, paganismo helénico e expressão clássica). Em 1999, foi galardoada com o prémio Camões.
Poema extraído de «Os poemas da minha vida – Diogo Freitas do Amaral, Público». Nota biobibliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado – Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

Outros poemas da mesma autora aqui no blog:
Promessa
Liberdade
Soneto
Pudesse eu
Partida

 

Sophia de Mello Breyner desapareceu há 5 anos Julho 2, 2008

Filed under: poesia,Sophia de Mello Breiner Andresen — looking4good @ 1:06 am
Jardim à Noite Uploaded on flickr.com by kapa jota

A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.

Sophia de Mello Breyner Andresen (n. Porto, 6 de Nov 1919; m. Lisboa, 2 de Jul 2004)

Outros poemas da mesma autora aqui no blog:
Promessa
Porque

 

Sophia de Mello Breyner desapareceu há 5 anos

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Jardim à Noite Uploaded on flickr.com by kapa jota

A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.

Sophia de Mello Breyner Andresen (n. Porto, 6 de Nov 1919; m. Lisboa, 2 de Jul 2004)

Outros poemas da mesma autora aqui no blog:
Promessa
Porque

 

Sophia de Mello Breyner desapareceu há 5 anos

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Jardim à Noite Uploaded on flickr.com by kapa jota

A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando
as árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.

Sophia de Mello Breyner Andresen (n. Porto, 6 de Nov 1919; m. Lisboa, 2 de Jul 2004)

Outros poemas da mesma autora aqui no blog:
Promessa
Porque

 

Pátria – Sophia de Mello Breiner Andresen Novembro 6, 2007

Filed under: poesia,Sophia de Mello Breiner Andresen — looking4good @ 2:06 am
Muro branco Muro branco foto daqui
Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro

Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Do longo relatório irrecusável

E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas

– Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro

Me dói a lua me soluça o mar
E o exílio se inscreve em pleno tempo.

in Os poemas da minha vida – Mário Soares – Público

Sophia de Mello Breyner Andresen (n. Porto, 6 de Nov 1919; m. Lisboa, 2 de Jul 2004)

Outros poemas da mesma autora aqui no blog:
Promessa

 

Pátria – Sophia de Mello Breiner Andresen

Filed under: poesia,Sophia de Mello Breiner Andresen — looking4good @ 2:06 am
Muro branco Muro branco foto daqui
Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro

Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Do longo relatório irrecusável

E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas

– Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro

Me dói a lua me soluça o mar
E o exílio se inscreve em pleno tempo.

in Os poemas da minha vida – Mário Soares – Público

Sophia de Mello Breyner Andresen (n. Porto, 6 de Nov 1919; m. Lisboa, 2 de Jul 2004)

Outros poemas da mesma autora aqui no blog:
Promessa

 

Pátria – Sophia de Mello Breiner Andresen

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Muro branco Muro branco foto daqui
Por um país de pedra e vento duro
Por um país de luz perfeita e clara
Pelo negro da terra e pelo branco do muro

Pelos rostos de silêncio e de paciência
Que a miséria longamente desenhou
Rente aos ossos com toda a exactidão
Do longo relatório irrecusável

E pelos rostos iguais ao sol e ao vento
E pela limpidez das tão amadas
Palavras sempre ditas com paixão
Pela cor e pelo peso das palavras
Pelo concreto silêncio limpo das palavras
Donde se erguem as coisas nomeadas
Pela nudez das palavras deslumbradas

– Pedra rio vento casa
Pranto dia canto alento
Espaço raiz e água
Ó minha pátria e meu centro

Me dói a lua me soluça o mar
E o exílio se inscreve em pleno tempo.

in Os poemas da minha vida – Mário Soares – Público

Sophia de Mello Breyner Andresen (n. Porto, 6 de Nov 1919; m. Lisboa, 2 de Jul 2004)

Outros poemas da mesma autora aqui no blog:
Porque

 

Promessa – Sophia de Mello Breiner Julho 2, 2007

Filed under: poesia,Sophia de Mello Breiner Andresen — looking4good @ 5:58 am
Primavera, Sandro Boticelli, c. 1482
Tempera on panel 203 × 314 cm
Uffizi, Florence
És tu a Primavera que eu esperava
A vida multiplicada e brilhante,
Em que é pleno e perfeito cada instante

Sophia de Mello Breyner Andresen (n. Porto 6 Nov 1919; m. Lisboa, 2 Jul 2004)

in Dia do Mar, Obra Poética de Sophia de Mello Breiner Andreses, Editorial Caminho

Ler outros poemas de Sophia de Mello Breiner Andresen aqui

 

Promessa – Sophia de Mello Breiner

Filed under: poesia,Sophia de Mello Breiner Andresen — looking4good @ 5:58 am
Primavera, Sandro Boticelli, c. 1482
Tempera on panel 203 × 314 cm
Uffizi, Florence
És tu a Primavera que eu esperava
A vida multiplicada e brilhante,
Em que é pleno e perfeito cada instante

Sophia de Mello Breyner Andresen (n. Porto 6 Nov 1919; m. Lisboa, 2 Jul 2004)

in Dia do Mar, Obra Poética de Sophia de Mello Breiner Andreses, Editorial Caminho

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