A rua cheia de luar
Lembrava uma noiva morta
Deitada no chão, à porta
De quem a não soube amar.
Já não passava ninguém…
Era um mundo abandonado…
E à janela, eu, tão Além,
Subia ressuscitado…
Vi-me o corpo morto, em cruz,
Debruçado lá no Fundo…
E a alma como uma luz
Dispersa em volta do mundo…
Mas, à tona do mar morto,
Um resto de caravela
Subia… E chegava ao porto
Com a aragem da janela.
António Branquinho da Fonseca (n. em Mortágua a 4 Maio 1905; m. em 16 de Maio de 1974, em Lisboa)