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Poema das Coisas Belas – António Gedeão (que faleceu há doze anos) Fevereiro 19, 2009

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Pôr do Sol imagem daqui

As coisas belas,
as que deixam cicatrizes na memória dos homens,
por que motivos serão belas?
E belas, para quê?

Põe-se o Sol porque o seu movimento é relativo.
Derrama cores porque os meus olhos vêem.
Mas por que será belo o pôr do sol?
E belo, para quê?

Se acaso as coisas não são coisas em si mesmas,
mas só são coisas quando percebidas,
por que direi das coisas que são belas?
E belas, para quê?

Se acaso as coisas forem coisas em si mesmas
sem precisarem de ser coisas percebidas,
para quem serão belas essas coisas?
E belas, para quê?

in Poesia Completa Antonio Gedeão, Edições João Sá da Costa, Lisboa

António Gedeão
(pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho n. 24 Nov 1906; m. 19 Fev 1997)

Ler do mesmo autor:
Poema das Coisas
A um ti que eu inventei
Tempo de Poesia
Tudo é foi
Lição sobre a água
Poema da auto-estrada
Rosa branca ao peito
Pedra filosofal
Lágrima de preta
Minha Aldeia

 

Poema das Flores – António Gedeão (que nasceu faz hoje 102 anos) Novembro 24, 2008

Filed under: António Gedeão,poesia — looking4good @ 1:50 am
Canteiro de Flores de Ana Maria Zientarski

Se com flores se fizeram revoluções
que linda revolução daria este canteiro!

Quando o clarim do sol toca a matinas
ei-las que emergem do nocturno sono
e as brandas, tenras hastes se perfilam.
Estão fardadas de verde clorofila,
botões vermelhos, faixas amarelas,
penachos brancos que se balanceiam
em mesuras que a aragem determina.
É do regulamento ser viçoso
quando a seiva crepita nas nervuras
e frenética ascende aos altos vértices.

São flores e, como flores, abrem corolas
na memória dos homens.

Recorda o homem que no berço adormecia,
epiderme de flor num sorriso de flor,
e que entre flores correu quando era infante,
ébrio de cheiros,
abrindo os olhos grandes como flores.
Depois, a flor que ela prendeu entre os cabelos,
rede de borboletas, armadilha de unguentos,
o amor à flor dos lábios,
o amor dos lábios desdobrado em flor,
a flor na emboscada, comprometida e ingénua,
colaborante e alheia,
a flor no seu canteiro à espera que a exaltem,
que em respeito a violem
e em sagrado a venerem.

Flores estupefacientes, droga dos olhos, vício dos sentidos.

Ai flores, ai flores das verdes hastes!
A César o que é de César. Às flores o que é das flores.

in Poesia Completa, António Gedeão, Edições João Sá da Costa, Lisboa

António Gedeão (pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho n. 24 Nov 1906; m. 19 Fev 1997)

Ler do mesmo autor:
Poema das Coisas
A um ti que eu inventei
Tempo de Poesia
Tudo é foi
Lição sobre a água
Poema da auto-estrada
Rosa branca ao peito
Pedra filosofal
Lágrima de preta
Minha Aldeia

 

Poema das Coisas – António Gedeão (que faleceu faz hoje 11 anos) Fevereiro 19, 2008

Filed under: António Gedeão,poesia — looking4good @ 1:58 am
foto: Mão daqui

Amo o espaço e o lugar, e as coisas que não falam.
O estar ali, o ser de certo modo,
o saber-se como é, onde é que está e como,
o aguardar sem pressa, e atender-nos
da forma necessária.

Serenas em si mesmas, sempre iguais a si próprias,
esperam as coisas que o desespero as busque.

Abre-se a porta e o próprio ar nos fala.
As cortinas de rede, exactamente aquelas,
a cadeira onde a memória está sentada,
a mesa, o copo, a chávena, o relógio,
o móvel onde alguém permanece encostado
sem volume e sem tempo,
nós próprios, quando os olhos indignados
nas pálpebras se encobrem.

Põe-se a pedra na mão, e a pedra pesa,
pesa connosco, forma um corpo inteiro

Fecha-se a mão, e a mão toma-lhe a forma,
conhece a pedra, entende-lhe o feitio,
sente-a macia ou áspera, e sabe em que lugares.
Abre-se a mão, e a mesma pedra avulta.

Se fosse o amor dos homens
quando se abrisse a mão já lá não estava.

António Gedeão (pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho) (n. 24 Nov 1906; m. 19 Fev 1997)

Ler do mesmo autor:
A um ti que eu inventei
Tempo de Poesia
Tudo é foi
Lição sobre a água
Poema da auto-estrada
Rosa branca ao peito
Pedra filosofal
Lágrima de preta
Minha Aldeia

 

Poema das Coisas – António Gedeão (que faleceu faz hoje 11 anos)

Filed under: António Gedeão,poesia — looking4good @ 1:58 am
foto: Mão daqui

Amo o espaço e o lugar, e as coisas que não falam.
O estar ali, o ser de certo modo,
o saber-se como é, onde é que está e como,
o aguardar sem pressa, e atender-nos
da forma necessária.

Serenas em si mesmas, sempre iguais a si próprias,
esperam as coisas que o desespero as busque.

Abre-se a porta e o próprio ar nos fala.
As cortinas de rede, exactamente aquelas,
a cadeira onde a memória está sentada,
a mesa, o copo, a chávena, o relógio,
o móvel onde alguém permanece encostado
sem volume e sem tempo,
nós próprios, quando os olhos indignados
nas pálpebras se encobrem.

Põe-se a pedra na mão, e a pedra pesa,
pesa connosco, forma um corpo inteiro

Fecha-se a mão, e a mão toma-lhe a forma,
conhece a pedra, entende-lhe o feitio,
sente-a macia ou áspera, e sabe em que lugares.
Abre-se a mão, e a mesma pedra avulta.

Se fosse o amor dos homens
quando se abrisse a mão já lá não estava.

António Gedeão (pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho) (n. 24 Nov 1906; m. 19 Fev 1997)

Ler do mesmo autor:
A um ti que eu inventei
Tempo de Poesia
Tudo é foi
Lição sobre a água
Poema da auto-estrada
Rosa branca ao peito
Pedra filosofal
Lágrima de preta
Minha Aldeia

 

Poema das Coisas – António Gedeão (que faleceu faz hoje 11 anos)

Filed under: António Gedeão,poesia — looking4good @ 1:58 am
foto: Mão daqui

Amo o espaço e o lugar, e as coisas que não falam.
O estar ali, o ser de certo modo,
o saber-se como é, onde é que está e como,
o aguardar sem pressa, e atender-nos
da forma necessária.

Serenas em si mesmas, sempre iguais a si próprias,
esperam as coisas que o desespero as busque.

Abre-se a porta e o próprio ar nos fala.
As cortinas de rede, exactamente aquelas,
a cadeira onde a memória está sentada,
a mesa, o copo, a chávena, o relógio,
o móvel onde alguém permanece encostado
sem volume e sem tempo,
nós próprios, quando os olhos indignados
nas pálpebras se encobrem.

Põe-se a pedra na mão, e a pedra pesa,
pesa connosco, forma um corpo inteiro

Fecha-se a mão, e a mão toma-lhe a forma,
conhece a pedra, entende-lhe o feitio,
sente-a macia ou áspera, e sabe em que lugares.
Abre-se a mão, e a mesma pedra avulta.

Se fosse o amor dos homens
quando se abrisse a mão já lá não estava.

António Gedeão (pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho) (n. 24 Nov 1906; m. 19 Fev 1997)

Ler do mesmo autor:
A um ti que eu inventei
Tempo de Poesia
Tudo é foi
Lição sobre a água
Poema da auto-estrada
Rosa branca ao peito
Pedra filosofal
Lágrima de preta
Minha Aldeia

 

Poema das Coisas – António Gedeão (que faleceu faz hoje 11 anos)

Filed under: António Gedeão,poesia — looking4good @ 1:58 am
foto: Mão daqui

Amo o espaço e o lugar, e as coisas que não falam.
O estar ali, o ser de certo modo,
o saber-se como é, onde é que está e como,
o aguardar sem pressa, e atender-nos
da forma necessária.

Serenas em si mesmas, sempre iguais a si próprias,
esperam as coisas que o desespero as busque.

Abre-se a porta e o próprio ar nos fala.
As cortinas de rede, exactamente aquelas,
a cadeira onde a memória está sentada,
a mesa, o copo, a chávena, o relógio,
o móvel onde alguém permanece encostado
sem volume e sem tempo,
nós próprios, quando os olhos indignados
nas pálpebras se encobrem.

Põe-se a pedra na mão, e a pedra pesa,
pesa connosco, forma um corpo inteiro

Fecha-se a mão, e a mão toma-lhe a forma,
conhece a pedra, entende-lhe o feitio,
sente-a macia ou áspera, e sabe em que lugares.
Abre-se a mão, e a mesma pedra avulta.

Se fosse o amor dos homens
quando se abrisse a mão já lá não estava.

António Gedeão (pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho) (n. 24 Nov 1906; m. 19 Fev 1997)

Ler do mesmo autor:
A um ti que eu inventei
Tempo de Poesia
Tudo é foi
Lição sobre a água
Poema da auto-estrada
Rosa branca ao peito
Pedra filosofal
Lágrima de preta
Minha Aldeia

 

Tempo de Poesia – António Gedeão (Faz hoje 101 anos que nasceu) Novembro 24, 2007

Filed under: António Gedeão,poesia — looking4good @ 4:10 am

Todo o tempo é de poesia

Desde a névoa da manhã
à névoa do outo dia.

Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia

Todo o tempo é de poesia

Entre bombas que deflagram.
Corolas que se desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas qua amar se consagram.

Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.

Todo o tempo é de poesia.

Desde a arrumação ao caos
à confusão da harmonia.

António Gedeão (pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho) (n. 24 Nov 1906; m. 19 Fev 1997)

Ler do mesmo autor:
Tudo é foi
Poema da auto-estrada
Rosa branca ao peito
Pedra filosofal
Lágrima de preta
Minha Aldeia

e aqui a sua biografia

 

A um ti que eu inventei – António Gedeão Maio 24, 2007

Filed under: António Gedeão,poesia — looking4good @ 12:48 pm

Pensar em ti é coisa delicada.
É um diluir de tinta espessa e farta
e o passá-lo em finíssima aguada
com um pincel de marta.

Um pesar de grãos de nada em mínima balança,
um armar de arames cauteloso e atento,
um proteger a chama contra o vento,
pentear cabelinhos de criança.

Um desembaraçar de linhas de costura,
um correr sobre lã que ninguém saiba e oiça,
um planar de gaivota como um lábio a sorrir.

Penso em ti com tamanha ternura
como se fosses vidro ou película de loiça
que apenas com o pensar te pudesses partir.

António Gedeão, Máquina de Fogo, 1961

in Poesia Completa , António Gedeão,
Edições João Sá da Costa, Lda.

Ler do mesmo autor:
Tudo é foi
Poema da auto-estrada
Rosa branca ao peito
Pedra filosofal
Lágrima de preta

e aqui a sua biografia

 

Faz hoje 10 anos que faleceu António Gedeão Fevereiro 19, 2007

Filed under: António Gedeão,poesia — looking4good @ 4:51 pm

Por isso deixamos aqui a juntar aos poemas já aqui relembrados:
Ouça aqui Pedra Filosofal na voz de Manuel Freire e leia:
Tudo é foi
Poema da auto-estrada
Rosa branca ao peito
Pedra filosofal
Lágrima de preta e à sua biografia, o poema:

Amostra sem Valor

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.

António Gedeão (pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho) (n. 24 Nov 1906, m. 19 Fev 1997)

 

Faz hoje 10 anos que faleceu António Gedeão

Filed under: António Gedeão,poesia — looking4good @ 4:51 pm

Por isso deixamos aqui a juntar aos poemas já aqui relembrados:
Ouça aqui Pedra Filosofal na voz de Manuel Freire e leia:
Tudo é foi
Poema da auto-estrada
Rosa branca ao peito
Pedra filosofal
Lágrima de preta e à sua biografia, o poema:

Amostra sem Valor

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosas da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.

António Gedeão (pseudónimo de Rómulo Vasco da Gama de Carvalho) (n. 24 Nov 1906, m. 19 Fev 1997)