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O Canto dos Pastores – Silva Alvarenga Novembro 1, 2008

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Flores no Campo imagem daqui

Que saudoso lugar!… Em roda, as flores
nascem por entre a relva; estes pinheiros
parecem suspirar também de amores…

O Zéfiro respira; o sol formoso
vai dos troncos as sombras aportando,
que já se inclina o carro luminoso…

O rouxinol te está desafiando;
querem-te ouvir os verdes arvoredos
que o vento faz mover de quando em quando;
e a musa que de amor sabe os segredos…

Risonhas flores, que um estreito laço
formais de vossos ramos na floresta,
sei que Glaura vos ama… Pela sesta,
deixai-vos desfolhar no seu regaço.

Manuel Ignácio da SILVA ALVARENGA nasceu, mestiço, em Vila Rica (MG) em 1749 e morreu no Rio de Janeiro a 1 de Novembro de 1814. Bacharel em Direito Canónico pela universidade de Coimbra (1771/ 76), aí publicou um poema herói-cómico, «O Desertor das Letras» (1774), e parece que chegou a exercer advocacia em Lisboa. Regressado ao Brasil em 1777, passou a advogar em Rio das Mortes (MG), de onde, em 1782, transitou para o Rio de Janeiro, como professor de Retórica e Poética. Aí escreveu e ensaiou várias peças de teatro. Pertenceu à Arcádia Ultramarina, com o nome de Alcindo Palmireno, e reuniu a sua obra lírica na «Glaura» (1799). Denunciado por ideias subversivas, conheceu o cárcere por mais de dois anos (1794/97), mas acabou libertado por falta de provas.

Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado – Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
 

O Canto dos Pastores – Silva Alvarenga

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Flores no Campo imagem daqui

Que saudoso lugar!… Em roda, as flores
nascem por entre a relva; estes pinheiros
parecem suspirar também de amores…

O Zéfiro respira; o sol formoso
vai dos troncos as sombras aportando,
que já se inclina o carro luminoso…

O rouxinol te está desafiando;
querem-te ouvir os verdes arvoredos
que o vento faz mover de quando em quando;
e a musa que de amor sabe os segredos…

Risonhas flores, que um estreito laço
formais de vossos ramos na floresta,
sei que Glaura vos ama… Pela sesta,
deixai-vos desfolhar no seu regaço.

Manuel Ignácio da SILVA ALVARENGA nasceu, mestiço, em Vila Rica (MG) em 1749 e morreu no Rio de Janeiro a 1 de Novembro de 1814. Bacharel em Direito Canónico pela universidade de Coimbra (1771/ 76), aí publicou um poema herói-cómico, «O Desertor das Letras» (1774), e parece que chegou a exercer advocacia em Lisboa. Regressado ao Brasil em 1777, passou a advogar em Rio das Mortes (MG), de onde, em 1782, transitou para o Rio de Janeiro, como professor de Retórica e Poética. Aí escreveu e ensaiou várias peças de teatro. Pertenceu à Arcádia Ultramarina, com o nome de Alcindo Palmireno, e reuniu a sua obra lírica na «Glaura» (1799). Denunciado por ideias subversivas, conheceu o cárcere por mais de dois anos (1794/97), mas acabou libertado por falta de provas.

Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado – Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
 

Apagou-se, por fim, o incerto lume … – Alfredo Guisado Outubro 30, 2008

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Lume imagem daqui

Apagou-se, por fim, o incerto lume,
que, em volta do meu ser, ainda ardia,
e o velho alfange, de inquietante gume,
cortou o voo que meu sonho erguia.

Apagou-se, por fim, o lume incerto…
e fiquei-me entre as urzes, hesitante,
no local que pr’a o além era o mais perto
e pr’a voltar a mim o mais distante.

Abandonada, então, essa charneca,
vestida de silêncio, árida e seca,
rodeou-me a minha alma sonhadora.

Afastei-me. Acabei por me perder:
sem poder atingir o que quis ser
e sem poder voltar ao que já fora.

Alfredo Pedro de Meneses Guisado nasceu a 30 de Outubro de 1891 em Lisboa, onde faleceu a 2 de Dezembro de 1975. De ascendência galega, completou o curso de Direito, em 1921, na sua cidade natal, mas nunca exerceu a advocacia, dedicando-se antes ao jornalismo e à intervenção cívica: deputado do Partido Republicano Português, chegou a ser governador civil substituto e director-adjunto do diário «República». Colaborador da revista «Orpheu», foi um poeta paúlico e sensacionista, mais afim de Sá-Carneiro do que de Pessoa. Bilingue, tanto escrevia em português («Distância», 1914) como em galego («Xente d’ Aldea», 1921) e ora assinava Alfredo Guisado ora Pedro de Meneses.

Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado – Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
 

Sombra… – Bernardo de Passos Outubro 29, 2008

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Rebanho imagem daqui

Nestes ermos, ouvindo a voz das fontes,
de humildes alegrias fui pastor;
meus rebanhos guardava com amor,
contemplando os longínquos horizontes…

Árvores maternais, que ergueis as frontes
verde-tristes, num gesto criador,
junto a vós semeei sonhos em flor,
que vestiram de rosas estes montes…

Mas tudo – riso e sonhos – me levaram…
Perdi meu gado, meus jardins secaram,
já neles não há rosas nem alfombras!

Doura a tarde estes ermos de abandono…
E eu passo – folha morta dum Outono,
sombra vaga a errar por entre sombras!

Bernardo Rodrigues de Passos nasceu em São Brás de Alportel (Algarve) a 29 de Outubro de 1876 e morreu cego em Faro a 1 de Junho de 1930. Começou por se dedicar à vida comercial e ao ensino particular mas, propagandista entusiasta da República, veio a ser administrador do concelho de Faro e, depois, secretário da respectiva Câmara Municipal. Bondoso, tímido e modesto, se tinha reduzida cultura e escassa leitura, não lhe faltava poder emotivo, sensibilidade artística, pureza de forma e elevação de pensamento. Como poeta, evoluiu do decadentismo para o neo-romantismo. A sua melhor recolha é de publicação póstuma: «Refúgio» (1936).

Ler do mesmo autor: Soneto e Quadras Soltas

Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado – Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
 

Mulher – Ruy de Noronha Outubro 28, 2008

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Chamam-te linda, chamam-te formosa,
Chamam-te bela, chamam-te gentil…
A rosa é linda, é bela, é graciosa,
Porém a tua graça é mais subtil.

A onda que na praia, sinuosa,
A areia enfeita com encantos mil,
Não tem a graça, a curva luminosa
Das linhas do teu corpo, amor e ardil.

Chamam-te linda, encantadora ou bela;
Da tua graça é pálida aguarela
Todo o nome que o mundo à graça der.

Pergunto a Deus o nome que hei-de dar-te,
E Deus responde em mim, por toda parte:
Não chames bela – Chama-lhe Mulher!

António Ruy de Noronha nasceu na Ilha de Moçambique a 28 de Outubro de 1909 e morreu em Lourenço Marques a 25 de Dezembro de 1943. Mestiço, de pai indiano, de origem brâmane, e de mãe negra, foi funcionário público (Serviço de Portos e Caminho de Ferro) e jornalista. Usou, por vezes, o pseudónimo de Carranquinha de Aguilar. Os seus «Sonetos» (ed. póstuma, 1943) revelam influência de Antero, Feijó e Nobre, mas o seu poema mais célebre intitula-se «Quenguêlêquê!…». Os seus contos e críticas literárias não foram até hoje recolhidos em volume. Uma desilusão amorosa, causada pelo preconceito racial, fez, segundo os seus amigos, com que o escritor se deixasse morrer no hospital da capital de Moçambique, com 34 anos.

Nota biobliográfica extraída de «A Circulatura do Quadrado – Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.

Ler do mesmo autor neste blog: Por Amar-te Tanto

 

À Vida Rústica – Maximiano Torres Outubro 5, 2008

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A lavrar o campo imagem daqui

Feliz o que da corte retirado
lá nos campos que herdou de seus maiores,
imitando os singelos lavradores,
volve os pátrios torrões c’o liso arado.

Não desperta jamais alvoroçado
da rude chusma aos náuticos clamores;
nem ao tom dos horríficos tambores
ou da estrondosa bomba ao rouco brado.

Sem de temor pender nem de esperança,
não vai co’a leve turba aduladora
incensar os altares da privança;

humilde enfim, a Providência adora,
no meio da tormenta ou da bonança:
esta é a vida, ó céus, que me namora.

Domingos MAXIMIANO TORRES nasceu em Rio de Mouro (Sintra) a 6 de Fevereiro de 1748 e faleceu na Trafaria a 5 de Outubro de 1810. Bacharel em Direito pela universidade de Coimbra (1770), foi alfandegário. Após a expulsão das tropas de Junot (1808), acusado de jacobino, morreu no presídio da margem esquerda do Tejo. Usava o nome arcádico de Alfeno Cynthio.

Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado – Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
 

À Vida Rústica – Maximiano Torres

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A lavrar o campo imagem daqui

Feliz o que da corte retirado
lá nos campos que herdou de seus maiores,
imitando os singelos lavradores,
volve os pátrios torrões c’o liso arado.

Não desperta jamais alvoroçado
da rude chusma aos náuticos clamores;
nem ao tom dos horríficos tambores
ou da estrondosa bomba ao rouco brado.

Sem de temor pender nem de esperança,
não vai co’a leve turba aduladora
incensar os altares da privança;

humilde enfim, a Providência adora,
no meio da tormenta ou da bonança:
esta é a vida, ó céus, que me namora.

Domingos MAXIMIANO TORRES nasceu em Rio de Mouro (Sintra) a 6 de Fevereiro de 1748 e faleceu na Trafaria a 5 de Outubro de 1810. Bacharel em Direito pela universidade de Coimbra (1770), foi alfandegário. Após a expulsão das tropas de Junot (1808), acusado de jacobino, morreu no presídio da margem esquerda do Tejo. Usava o nome arcádico de Alfeno Cynthio.

Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado – Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
 

Passaste como a estrela matutina – José Maria Amaral Setembro 23, 2008

Filed under: José Maria do Amaral,poesia,Unicepe — looking4good @ 8:14 pm
imagem daqui


Passaste como a estrela matutina,
que se some na luz pura da aurora;
da vida só viveste aquela hora
em que a existência em flor luz sem neblina.

Ver-te e perder-te! De tão triste sina
não passa a mágoa em mim, antes piora;
sem ver-te já, minh’alma ‘inda te adora
em triste culto que a saudade ensina.

Não vivo aqui; a vida em ti só ponho.
Na fé, de Cristo filha, a dor abrigo;
futuro em ti no céu vejo risonho!

Neste mundo, meu mundo é teu jazigo;
dizem que a vida é triste e falaz sonho;
se é sonho a vida, sonharei contigo.

JOSÉ MARIA DO AMARAL nasceu no Rio de Janeiro a 14 de Março de 1813 e faleceu em Niterói (RJ) a 23 de Setembro de 1885. Diplomado em Direito e Medicina por Paris, seguiu a carreira diplomática (Paris, Washington, capitais sul-americanas). Foi conselheiro do Império e deixou toda a sua obra dispersa por jornais e revistas. No fim da vida, a dúvida e o desespero atormentaram-no. O soneto, que incluímos, é dedicado à morte de uma filha.

Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado – Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
 

Passaste como a estrela matutina – José Maria Amaral

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Passaste como a estrela matutina,
que se some na luz pura da aurora;
da vida só viveste aquela hora
em que a existência em flor luz sem neblina.

Ver-te e perder-te! De tão triste sina
não passa a mágoa em mim, antes piora;
sem ver-te já, minh’alma ‘inda te adora
em triste culto que a saudade ensina.

Não vivo aqui; a vida em ti só ponho.
Na fé, de Cristo filha, a dor abrigo;
futuro em ti no céu vejo risonho!

Neste mundo, meu mundo é teu jazigo;
dizem que a vida é triste e falaz sonho;
se é sonho a vida, sonharei contigo.

JOSÉ MARIA DO AMARAL nasceu no Rio de Janeiro a 14 de Março de 1813 e faleceu em Niterói (RJ) a 23 de Setembro de 1885. Diplomado em Direito e Medicina por Paris, seguiu a carreira diplomática (Paris, Washington, capitais sul-americanas). Foi conselheiro do Império e deixou toda a sua obra dispersa por jornais e revistas. No fim da vida, a dúvida e o desespero atormentaram-no. O soneto, que incluímos, é dedicado à morte de uma filha.

Soneto e nota biobibliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado – Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.
 

Retrato de Minha Mãe – Enrique de Resende Setembro 16, 2008

Filed under: Enrique de Resende,Mãe,poesia,Unicepe — looking4good @ 12:08 am

A face que mimavas e dizias
ser o sonho de amor com que sonhavas,
se hoje ao mundo voltasses, não verias
aquela mesma face, que mimavas.

Mudou-se-me o destino, mal partias,
pois órfão do destino me deixavas,
e, na ronda das horas e dos dias,
tudo mais se mudou, porque mudavas.

Sucederam-se os anos… Envelheço,
mas, se a luz em meus olhos já rareia,
a mocidade nos teus olhos brilha.

Contemplo-te o retrato e me enterneço
− Tal é a distância que entre nós medeia,
que hoje pareces minha própria filha.

ENRIQUE DE RESENDE (n. em Cataguases, Minas Gerais a 13 de Agosto de 1899 – m. 16 de Setembro de 1973 no Rio de Janeiro).

Soneto extraído de «A Circulatura do Quadrado – Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.