
Esbraseia o Ocidente na agonia
o Sol… Aves, em bandos destacados,
por céus de ouro e de púrpura raiados,
fogem…Fecha-se a pálpebra do dia…
Delineiam-se, além da serrania,
os vértices de chama aureolados
e em tudo, em torno, esbatem derramados
uns tons suaves de melancolia…
Um mundo de vapores no ar flutua…
Como uma informe nódoa, avulta e cresce
a sombra, à proporção que a luz recua…
A natureza apática esmaece…Anoitecer
Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
surge trémula, trémula… Anoitece.
Raimundo da Mota de Azevedo Correia nasceu a bordo, no litoral do Maranhão, a 13 de Maio de 1859 e faleceu em Paris a 13 de Setembro de 1911, vitimado por um ataque de uremia. Bacharel em Direito (1882) pela universidade de São Paulo, exerceu a magistratura em São João da Barra (1883), o professorado na Faculdade de Direito de Ouro Preto (1892) e a diplomacia, como secretário de legação em Lisboa. As suas «Poesias» foram reunidas em volume na capital portuguesa (1898). Constitui com Alberto de Oliveira e Olavo Bilac a tríade dos mestres do parnasianismo brasileiro. Céptico, tímido, introvertido e misantropo, a sua obra em verso é de tendência filosófica.
Soneto e nota biobliográfica extraídos de «A Circulatura do Quadrado – Alguns dos Mais Belos Sonetos de Poetas cuja Mátria é a Língua Portuguesa. Introdução, coordenação e notas de António Ruivo Mouzinho. Edições Unicepe – Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto, 2004.